quinta-feira, 10 de julho de 2014

Menos que nada


A vida já é estranha, mas há dias que são um abuso. Não sei se este começo é o mais indicado para o caso, mas hoje sinto que não sei nada. Aliás, normalmente sinto que sei muito pouco. Pouco é favor, por isso faço-me esse favor a mim própria porque a zeros ninguém está. Cada vez mais me convenço que tudo é relativo, que cada partícula da existência é mutável, que cada par de olhos vê de uma maneira única, que cada pessoa é um caso e que tudo está interligado. Daí o caos. Daí a estranheza. Daí a incerteza. Vai daí talvez muitos considerem que o facto de uma senhora estar a desfalecer num autocarro pelo calor excessivo do dia em si e pela multidão apinhada, acompanhado por uma apatia geral, não seja estranho. Mas quando alguém tenta ajudar e pede às pessoas que abram as janelas do mesmo autocarro para a senhora ter algum ar em circulação e não se avista uma única reação advinda de um único indivíduo presente no mesmo autocarro, as coisas não têm duas leituras possíveis: a vida é estranha porque as pessoas são estranhas. Como não sei quase nada não tenho capacidade para definir este estado generalizado que assola a maioria que não reage a nada nem a tudo. Não reagem. Ponto. O pedido de abertura das janelas de trás foi gritado por várias vezes. As pessoas só olharam. Não esticaram o braço para virar a maçaneta que podia melhorar consideravelmente o estado de saúde de uma pessoa. Então tentei perceber o porquê. Tentei pôr-me no lugar das pessoas. Depois de algum esforço concluí que é escusado. Não consigo percebê-las. Entretanto, depois desta tentativa falhada de vestir a pele dos outros, comecei a pensar: "mas como é que está mais calor dentro do autocarro do que na rua, à torreira do sol?". Como estava suficientemente perto do motorista para falar com ele sem gritar disse: "Não acha estranho estar este calor aqui dentro?", ao que o senhor respondeu "É o ar que está avariado.". Ao que eu retorqui: "Mas eu sinto ar a vir de cima, só que é quente." Ao que ele exclamou: "Sim. O ar frio está avariado, mas como eles dizem que temos que ter sempre o ar ligado, eu liguei no quente." 
Tive que paragrafar o texto. Hoje não estou em condições para escrever mais. Fico-me por aqui. Ou talvez vá mesmo para o Tibete. Não sei. Estou baralhada. 

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