quarta-feira, 25 de maio de 2016

A Geração Amianto



Já ouvi dizer da boca de muita gente que nos acham mamados, incapazes, velhos, inadaptados e um sem fim de nomes que não agoiram nada a favor da malta que agora carrega mais de quatro dezenas de anos nos ombros. Mas a verdade meus amigos e amigas é que nós fomos feitos de aço. Fomos os espermatozoides que vingaram numa década atreita a sexo, drogas e rock n' rol e depois mostrámos ao mundo que temos costela de deus ao sobrevivermos a um número razoável de circunstâncias que hoje são entendidas como mortais e nefastas para o corpo e alma da espécie humana, Ora vejam lá:

1. Estudámos em escolas forradas a amianto durante todos os anos do ensino obrigatório;
2. Ouvimos tudo o que os nossos pais e avós tinham para nos dizer e depois aguentámos um mundo completamente oposto ao que eles disseram;
3. Fomos cobaias das drogas químicas que já nem os dealers têm coragem de vender tal é o perigo de morte que lhes é associado (um junkie morto não é bom para o negócio);
4. Comemos comida carregada de pesticidas que hoje são proibidos no mercado (e naquela altura não havia celeiros, nem alternativas);
5. De um dia para o outro, do nada, puseram-nos cenas completamente surreais nas mãos: um cartão multibanco, um telemóvel, um computador, uma consola de jogos, um micro-ondas;
6. Eramos punks mesmo sem haver um único sítio onde encontrar calças pretas elásticas e muito menos uma coisa chamada youtube;
7. Passámos toda a infância e adolescência sem ir uma única vez ao dentista;
8. Assistimos a muitos eventos traumatizantes como por exemplo uma coisa chamada de reuniões de Tupperware onde as nossas mães ou as amigas delas vendiam caixas de plástico como quem vende amendoins;
9. Comemos chouriço e fumados feitos nos currais dos porcos das aldeias de Portugal;
10. Fomos para o algarve muitas e muitas vezes em carros sem ar-condicionado, nem rádio, nem airbags; nem autoestradas;
11. Sobrevivemos a cargas de porrada que nenhum pedagogo atual conseguiria explicar: dos pais, dos professores, dos padres, dos vizinhos, dos tios, etc.

E agora, meus amigos e minhas amigas? Ainda acham que somos mamados? Pois o que eu tenho para vos dizer é: vocês são uns meninos!

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Carta de Motivação para um Emprego Qualquer



Caros(as) senhores(as):

Devo enfatizar ao máximo as motivações que me levam a candidatar a esta oferta de emprego visto que a causa pelas quais estas se regem é colossal e de um significado maior.

Sinto um alor indescritível que me faz  propor às funções que anunciam porque tenho como objetivo de vida conseguir colectar a quantia suficiente para adquirir um terreno, comprar um contentor e transformá-lo numa casa acolhedora, no meio da natureza, com todos os apetrechos que me façam conseguir viver com base numa economia autossustentável, amiga do ambiente e, por conseguinte, amiga da própria humanidade. Esta causa a que me entrego pode ser a resposta para grande parte dos problemas do mundo, dos quais vocês são uma parte integrante. Não consigo realizar motivação mais forte do que esta e do que eu vou poder fazer a seguir a atingir as minhas metas pessoais que passa por mandar-vos para a puta que vos pariu, lá do cimo da montanha, onde vou poder grita-lo a pulmões abertos pelo ar puro que me vai rodear ao contrário da pestilência que abunda das vossas cadeiras e secretárias empoeiradas, perto das quais vocês vão falecer sem nunca terem feito o mínimo esforço para tornar este mundo um lugar melhor para se viver.

Depois de explanar a intensidade da minha motivação, tenho a certeza que me vão facultar a oportunidade de prova-la, deixando-me por esse motivo passar o recibo verde à experiência de um mês, com a quantia de quinhentos e dez euros.

Expectante, aguardo pelo vosso contacto.

Cumprimentos,

Carla Faria Dias

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

As Coisas Que Se Fingem


A maioria das pessoas nem se apercebe mas o fingimento é uma constante na vida dos seres humanos. Algumas das vezes até se avisa em palavras faladas que se vai exercer o verbo como é exemplo disso o "vou fingir que...". Com base neste pressuposto, indaguei a minha memória que me parece estar cada vez mais fraca à medida que os anos passam e juntei-a à de amigos e amigas a quem perguntei qual era o ato de fingimento mais explícito na opinião de cada um. A pergunta foi: "O que é que as pessoas fingem com mais frequência?". Saiu isto:

1. A normalidade;
2. Que são felizes;
3. Que são sempre elas próprias;
4. Que gostam do trabalho que têm;
5. Que o mundo não está a beira de um colapso ambiental, social, económico, etc.;
6. Que são justas;
7. Que não votam no PSD;
8. O orgasmo;
9. Que as relações amorosas que têm são perfeitas;
10. Que não ligam à opinião dos outros;
11. Que são anti redes-sociais;
12. Que a beleza que ostentam na rua não é fruto de três horas de aprumo em casa;
13. Que não cheiram mal dos pés;
14. Que não são fingidas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Pedido de Natal Antecipado


Toda a gente quer ser amada e quase ninguém se presta a amar. Malta: é só fazer as contas. Se um dos propósitos do ser humano é o amor e ninguém se esforça por praticá-lo as chances de ser alvo desse sentimento são quase nulas. Anda tudo a tentar encontrar o sentimento-mor - aquele que dizem que arde e não se vê - e na realidade é mesmo impossível pôr-lhe a vista em cima. Porquê? Porque querem tê-lo mas não fazem nada para o construir como se se tratasse de um qualquer objecto de consumo. Pessoas: o amor não está nas prateleiras. Somos nós (pessoas) que temos que o produzir. Oiço dizer: "Ele não me ama", "Ela não me ama", "Eles nunca amaram", "Eu não o amava". Esses "Eles" e "Elas" somos nós! Amem-se pá! Deixem-se de tretas e respeitem-se! Cuidem do que querem e cultivem o que aspiram colher! Dizem que caminhamos para uma diminuição da capacidade de empatia a passos assolapados. E quem o diz são pessoas que estudam a sério estas coisas. O que eu acho é que as pessoas andam atrás daquilo que elas próprias não têm capacidade de desenvolver e, por isso, peço-vos: não deixem que esta merda morra assim, sem pingo de dignidade e humanismo. Já que não conseguimos inverter o colapso ambiental, sabendo de antemão que isto vai acabar mal, façamos um esforço para que acabe com a memória que fez mover montanhas e inspirou a maior fatia da vida como é conhecida: lembrem-se do que é amar e pratiquem o verbo com todo o respeito que lhe é devido!

sábado, 10 de outubro de 2015

A mulher coisa


Desde os tempos antigos que assistimos a uma dominância dos homens sobre as mulheres. Seja a nível físico, psicológico, emocional e de desejo carnal o homem, na esmagadora maioria das culturas de muitos pontos geográficos do planeta, é rei e senhor e assegura o seu lugar através desta tradição de persistência infinita que o coloca no topo da cadeia dos seres humanos sem contestações de maior. São muitos os exemplos literários que retratam esta realidade ao longo dos tempo, servindo, deste modo, para concluir que a ideia de mulher como mero objecto servil ou de desejo é de facto uma cultura persistente desde há muito. Simone de Beauvoir, por exemplo, retrata a mulher, ironicamente, como o Segundo Sexo, obra em que explora o desequilíbrio estrutural na sociedade relativamente ao poder entre os géneros. O homem surge como o dominador de todas as esferas sociais e a mulher como uma mera seguidora dessa dominância. É quase como se esse lugar da mulher fosse inquestionável e, por esse motivo, incontestável. Ela cresce com uma verdade que lhe é incutida sobre a aceitação das tradições ancestrais que a colocam na segunda linha de importância ou relevância no mundo. A sua relevância só sobressai em esporádicos casos que na maioria das vezes não têm o intuito de a elevar a um patamar de igualdade em relação ao homem mas sim de a expor aos deleites de desejo do macho. Nas indústrias pornográficas, publicitárias e outras é visível o uso exacerbado da mulher enquanto objecto de desejo que serve única e exclusivamente o fim de satisfazer os apetites sexuais do homem. Ela surge, na maior parte das vezes, como um corpo a partir do qual o homem pode satisfazer todas as suas vontades ou vaguear livremente nos seus fetiches sem que para isso haja o cuidado de qualquer investimento emocional ou afectivo. A mulher é aqui um mero objecto capaz de satisfazer as necessidades físicas do homem, tal como um carro ou como um prato de comida. A inclinação persistente em manter este ciclo histórico-social sugere que para além do homem dominador, a própria mulher tende a deixar-se dominar sem que tente sequer inverter esta realidade. Mas o uso do corpo nem é o pior porque convenhamos que até estamos a equiparar-nos a esse nível de exploração: o corpo do homem também já é usado com esses fins mais ou menos no mesmo grau de coisificação. O maior problema está na dissimulação constante que teima em provar que as coisas já estão bem assim, mesmo não estando. Ao longo dos tempos também já assistimos a esporádicas tentativas de conquista de um lugar igualitário para o sexo feminino, tentativas essas que sortiram algumas mudanças. Contudo, o estado de igualdade apresenta-se agora como uma realidade dissimulada que à primeira vista coloca a mulher no mesmo grau de relevância social que o homem mas que, no fundo, ainda coexiste com as tradições ancestrais traduzidas por um rol de submissões pré-adquiridas. A mulher de hoje vivencia uma realidade que ainda é demasiado próxima à que era colocada no papel de servilismo, sem quaisquer direitos, inclusive o de votar, opinar, assumir lugares de chefia ou de relevância social. Este passado recente ainda está vincado, mesmo que num grau mais subtil, mas é impeditivo de uma mudança real face a séculos de subserviência e do assumir de um papel secundário na história da humanidade. Eu sou mulher e sinto isso, todos os dias.  

sábado, 26 de setembro de 2015

10 Razões Para Começar a Sair com Gajos Mais Novos


No outro dia estava à conversa com uma grande amiga que tem o poder de me fazer rir às bandeiras despregadas quando me disse que ia provar-me que, independentemente da idade da mulher, o melhor que esta tem a fazer é tirar proveito do rol de gajedo na casa dos 20 que para aí anda. Sem ser com intuitos abusivos, ofensivos ou mesmo de pederastia, esta minha amiga, que até é uma gaja porreira, listou uma série de motivos para me convencer a aderir a esta verdade e que eu faço questão de partilhar nem que seja para se divertirem.  Ora aqui vai disto:

1. Um gajo maduro nunca chega a ser maduro a não ser no corpo: tem a mesma cabeça que um gajo novo, com a diferença que a flacidez corporal do primeiro não chega aos calcanhares dos abdominais definidos do segundo;
2. Um gajo maduro tem vícios comportamentais e culturais imutáveis. Um gajo novo pode ser "ajudado" a transformar-se naquilo em que nós gostamos;
3. Um gajo maduro engana as mesmas vezes que um gajo novo: só que o maduro é para provar a si mesmo que é viril e o novo é porque não aguenta o assédio constante nem a produção exacerbada de espermatozóides com que é brindado nas primeiras décadas de vida;
4. Um gajo maduro tende a acomodar-se aos vícios que os sistemas sociais instituídos lhe impuseram ao longo da vida. Um gajo novo ainda só tem um vício - sexo;
5. Um gajo maduro tem bastantes probabilidades de trazer uma família às costas, com filhos, netos e dívidas. Um gajo novo só traz uma coisa às costas: uma mochila;
6. Um gajo maduro faz-nos lembrar daquilo que vamos ser muito em breve e não queremos. Um gajo novo faz-nos sentir aquilo que mais gostámos de ser e ainda fingimos ser;
7. Um gajo maduro ainda acha que uma mulher nunca deve pagar uma conta. Um gajo novo não se importa que seja a mulher a pagar tudo e que seja ele a ficar em casa a tratar da lida, das crianças e das refeições;
8. Um gajo maduro precisa de horas infindáveis de ginásio para ter uma definição muscular que lhe agrade. Para um gajo mais novo basta tratar da lida da casa e do cumprimento das funções conjugais para servir, simultaneamente, de objecto de arte escultural;
9. Um gajo maduro começa a querer usar os nossos cremes anti-rugas e tintas para o cabelo. Um gajo novo espalha-nos o creme no corpo e diz-nos que as cás têm charme;
10. Um gajo maduro é chato e demasiado previsível. Um gajo novo, mal esteja aborrecido abandona-nos e isso é muito bom - podemos arranjar outro gajo novo.