sexta-feira, 27 de junho de 2014

PIDE - Planeta Interdito a Defensores da Expressão


Só quem anda completamente a leste da realidade é que desconhece que tudo o que aqui é escrito, partilhado, mostrado e explanado nos deixa a descoberto como quem é empurrado para um salão de festas de lobistas em pelota. O Google transforma toda e qualquer informação pessoal, impessoal e relacionada direta ou indiretamente com o sujeito usuário em bases de dados esquematizadas por áreas que perfazem um perfil tão exaustivo da pessoa em questão que, neste momento, posso afirmar convictamente que esses gajos conhecem-me melhor a mim do que os meus próprios pais. E não quero saber. Não cometi nenhum crime (até agora), não vou viver amedrontada com a ideia de que pessoas com poder de decisão vão saber tudo sobre mim sob pena de nunca vir a ser contratada para trabalhar com elas (é sinal que não têm perfil para entrarem na minha vida), recuso-me a deixar de expressar os meus pensamentos e visões sobre o mundo porque defendo com garras e dentes afiados todas as liberdades e acato com paz e serenidade toda e qualquer consequência que possa advir da minha postura na vida. Pouco me importa que o pessoal do Google, para além de voyeurista, seja unha com carne dos grandes detentores dos esquemas pouco transparentes associados aos poderes. Eles usam-me e eu uso-os. Isto de escrever é terapêutico e só me faz bem a mim e aos que me rodeiam. Sem isto eu ia acabar por molestar alguém fisicamente, ia acabar em tribunal e aí sim: estava mesmo tramada. Quer dizer, talvez não. Em Portugal ninguém fica preso mais do que 6 meses. Mas era chato. Perder seis meses da minha preciosa vidinha de vadiagem, recuperação de móveis, desabafos escritos desinteressantes e procura diária de emprego. Pensando melhor, não ia ser assim tão chato. Eram seis meses de férias com oferta de estadia completa. Mas estas são hipóteses remotas porque vou continuar a escrever o que me dá na real gana, sobre tudo o que me apetecer, sobre todos os que quiser referir, evitando ser a provocadora de ossos partidos, cegueira ou qualquer outro tipo de danos físicos em terceiros. Eles que leiam os textos à vontade, que me associem a grupos radicais extremistas e que me incluam na lista de pessoas indesejadas para o sistema. É uma honra. Na altura da PIDE, para não me alargar para fora das fronteiras desta ervilha plantada na cauda da Europa, também existia um controle sistemático sobre a liberdade de expressão dos que não acatavam as palas que se aplicam aos asnos para concentrarem a atenção unilateralmente sem o perigo de a alargarem para novos e "perigosos" caminhos. As consequências nefastas dessa era não eram tão subreptícias como as atuais, havendo confrontos físicos e detenções do corpo. As de hoje provocam acontecimentos subtis o quanto baste para que alguém que conteste e demonstre publicamente o seu inconformismo não se aperceba a curto prazo que o seu descontentamento vai fazer mossa em várias esferas da sua vida. Profissionalmente, ficam queimados - os empregadores são apologistas e acérrimos defensores das palas, valorizando aqueles que também as usam. Pessoalmente, o círculo de amigos e conhecidos começa a desvanecer-se - acham estranho não usarmos palas e Deus lhes livre de estarem associados a tamanha estranheza. Familiarmente, causam desconforto (principalmente aos progenitores) - não entendem como é que a recusa do uso das palas pode ser uma causa tão escudada quando o que fica em jogo é uma integração plena no sistema e nos círculos das pessoas normais. Sexualmente, no caso em que a libertária seja mulher e hétero, fica-se sem parceiro - os homens portugueses não gostam de mulheres muito revolucionárias porque isso subentende um futuro pouco promissor na submissão imperativa para a harmonia de uma família assente em dogmas patriarcais. E depois? Quem é que lava a roupa, engoma, trata dos filhos, aspira, cozinha e ainda tem que trabalhar para o dinheiro dar para os bilhetes dos jogos do benfica? Pois. Eu não sou. E estas mossas podem moer, mas não matam. O que mata é termos que ser quem não somos e vivermos uma vida inteira como os outros esperam que vivamos.

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