domingo, 29 de junho de 2014

A Arte de Evacuar


É repetitivo e, por isso, maçador. É exaustivo e, por isso, cansativo. É obsessivo e, por isso, doentio.  É uma merda tão grande que até já me faz ficar cansada e com asco de mim própria. Mas tem que ser bradado e exorcizado para não ficar nas entranhas. Por isso, escrevo e escreverei até que as mãos me doam. Negativismo ou lá o que for, para baixo todos os santos ajudam.
As entidades que supostamente existem para representar o povo e, por conseguinte, agir em conformidade com respostas às necessidades das pessoas, proporcionando-lhes uma vida com dignidade são um embuste. Um embuste é pouco: são um embustão (como não há palavras para a sua definição, acabei de inventar uma). A Segurança Social existe para dificultar o acesso a apoios que supostamente seriam direitos adquiridos, como é o exemplo do abono de família para crianças e jovens em idade escolar, acesso a tarifas sociais para pessoas com carências económicas, encaminhamento personalizado para problemas individuais e por aí fora. Tal como a sua designação sugere, está subentendido que se trata de uma instituição que se presta a dar segurança às pessoas. Mas não dá. Fá-las sentirem-se inseguras não só no decorrer dos longos e morosos processos burocráticos apilhados de papéis que, pelo montante estimado, devem equivaler a várias centenas de sequoias milenares abatidas para a fabricação das resmas, como também no atendimento asqueroso que fazem questão de prover aos seus usuários, fazendo crer que por detrás desta máquina magnificamente oleada existe um campo de treino para universalizar o perfil do pessoal que lá trabalha. As palavras de ordem ensinadas devem ser: não e não. Depois do treinamento e assimilação das palavras-chave, vem a correção da postura física e facial: nunca sorrir para os utentes, mostrar um ar de superioridade, intimidá-los com olhares repreensivos e nunca, em qualquer ocasião, olhar para eles como seres humanos e sim como um número, neste caso concreto, o algarismo do ticket da vez. Passados os testes no campo de treino, as pessoas recrutadas ainda devem tomar o soro da verdade e ser submetidas a dinâmicas de grupo simuladoras de atendimentos reais. Se não cumprirem com todas as regras, não são contratadas. Se, por exemplo, esboçarem um sorriso no decorrer de uma sessão ou se disserem a palavra sim, no lugar da negação, ficam automaticamente de fora da corrida, perdendo a oportunidade de uma vida enfadonha, causadora de graves danos retais vulgarmente conhecidos por hemorroidas e que, normalmente, advêm de um sedentarismo extremo pelo poiso excessivo do traseiro sobre um assento qualquer.
Agora o IEFP, cuja sigla abrevia o nome pomposo de Instituto de Emprego e Formação Profissional. A sua sistemática indiferença quer no apoio à empregabilidade de quem precisa, quer na orientação formativa a quem faltam saberes, faz da sigla em questão uma camuflagem para qualquer outro tipo de organização criminosa que tem que funcionar escondida nos meandros do submundo, apresentando-se ao mundo como uma instituição benfeitora a fingir. Faz um tempo que o desemprego me assolou. E faz o mesmo tempo que sou eu que ando a perseguir as técnicas funcionárias da respetiva organização para que elas façam aquilo para que são pagas: apoiar na empregabilidade e/ou dar respostas formativas de acordo com o perfil da pessoa. Como stalker que sou, lá consegui umas respostas. Mas a surrealidade das mesmas, de tão forinha que foram, não tem adjetivação possível. Por isso, fico-me por uma redutora descrição dos factos. Enviaram-me três cartas, que me chegaram ao correio no mesmo dia e que, pela data carimbada, saíram em simultâneo do posto emissor. Primeiro facto: não me enviaram só uma carta porque o conteúdo de cada uma tratava três ofertas de emprego diferentes. Abri cada uma delas com a sensação de que tenho sido injusta e que, afinal, o sistema até funciona. Segundo facto: cada oferta de emprego de cada uma das três cartas correspondia ao desempenho de funções para as quais nunca estudei, tive formação ou, que seja, um dia de experiência profissional. Mas lá me candidatei. Só me chamaram para uma entrevista. As outras entidades empregadoras, depois de terem visto o meu percurso académico e profissional devem ter pensado "os gajos do IEFP estão doidos" ou "porque carga de água é que esta gaja está a candidatar-se para este cargo?". Terceiro facto: a entrevista a que fui ficou em águas de bacalhau. Motivo? Falta de experiência na área. Quarto facto: gastaram dinheiro em papel, envelopes, selos, tinta de impressora, tudo a triplicar, para resultados zero. Aqui a descrição factual inclui uma adjetivação mas visto que é numeral e advinda de uma ciência exata (três ofertas de emprego = zero emprego) está de acordo com as normas.
Como calculo que dos dois seguidores que leem os meus textos, dois já nem estão a ler esta parte, não vou escrever mais nada. É domingo, está sol e estou-me a cagar para isto.

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