segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo


Não me dá grande vontade de perder o meu tempo a desgastar energias com aquilo que é óbvio há anos, que já prefazem décadas, que já constituem séculos. O óbvio está à vista de tudo e de todos. Só não vê quem não quer e, pelos vistos, muitos não querem ver. Preferem viver com miopias avançadas e astigmatismos graves uma vida inteira. Com a visão reduzida ao próprio umbigo e desfoque total para o que vai para além dele. Mas também não me dá grande alento ficar calada ou, neste caso concreto, paralisada dos dedos ao ponto de não escrever sobre a perfídia e tenebrosa praga que assola a maioria com uma cegueira que já não é ensaio e passou ao ato. Enquanto todos rezam por dias melhores, eu cá vou tentando, sem licença diplomada, devolver a vista a uns poucos. Na candonga, vou fazendo o que posso para operar os politicamente apelidados de portadores de deficiência visual que, sem quererem, contraíram a ultra contaminante mazela e que por sorte ou azar acabaram por esbarrar comigo. Sou uma espécie de barbeira medieval que finge ser barbeira só para não ser queimada pela inquisição porque até pesca um bocado de ciência (coisa do demo) e consegue extrair uma ou outra raíz putrefacta ou aniquilar um ou outro treçolho encastrado. Mas estas décadas de tentativas têm parecido muito longas em duração e muito curtas em resultados. Porque no fundo ninguém quer ser curado. É mais fácil seguir-se pelo caminho que o senhor nos destinou, seja quem for o senhor. Sem  o questionar ou sequer o tentar mudar. Por muito que remoa, a gente habitua-se à dor. A mudança, essa, é muito mais difícil. Vamos, então, continuar a abandonar-nos a nós próprios continuadamente. Desde que possamos avistar o nosso umbigo, está tudo bem. Comam-nos as pernas, os braços, a cabeça. Fiquemos uns coutos com olhos míopes - pegados aos umbigos, claro. Até o coração pode ir. A razão também. E que façam o mesmo aos nossos pais, irmãos, filhos, tios, amigos (se é que os há). Se até há uns tempos nos arrancavam só partes de nós doseadas de maneira a que houvesse tempo para a sua reconstituição em pleno num fingimento de presenteamento solidário, agora que nos abocanhem e rasguem e dilacerem. Eles, os senhores, em semi-forma de semi-deuses, sabem que só precisamos de olhos e de umbigos. Nem é preciso serem os dois da visão. Basta um. Se der para vislumbrar o buraco que outrora foi a tripa da vida, damo-nos por contentes e felizes. Já nem é preciso ser confesso. Dá menos trabalho assim. Sem bocas para falar. Só ainda falta uma coisa: inventar o não-comer. Nesse dia o Nosso Senhor Espírito Santo, Pais e Filhos limitada vão poder regozijar-se lá de cima dos céus, com a paz na Terra para toda a eternidade. Ámen.

7 comentários:

  1. eu não sou católico e ainda bem que não o sou, mas também eu não escarneço do que eu não conheço e acredito: a Bíblia Sagrada

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  2. Desculpe, mas deve ser da hora tardia: não percebi o seu comentário. Talvez me faça algum sentido amanhã, depois de descansar.

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    1. voce escarnece do que não conheçe, um dia vai-se arrepender

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    2. Agora que percebi, posso dizer-lhe que é você que não percebe. Este texto é sobre um grupo bancário apelidado de Espírito Santo. Se por um acaso o senhor ou senhora anónimo(a) acha que um Banco é uma religião talvez eu possa considerar que estou a ter a honra de estar a ser ameaçada por um grupo financeiro. Se não, aconselho-o a ler as notícias sobre Portugal e o que se está a passar. Boa noite senhor(a) anónimo(a).

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