Naquele dia descobri a cor da dor.
Vesti-me de preto.
Podia haver quem me lesse.
Até hoje é luto.
Não há quem me branqueie.
E continua o silêncio.
Com o livro fechado, embolorado, decomposto, mofado, escuro.
Antes descobri o preço do amor.
Dei tudo o que tinha.
Mas não chegou.
Não tinha o que chegasse.
Fiquei sem nada.
Depois quis agarrar a força.
Dei-me o vermelho.
Mas a cor esbateu-se.
Absorveu-se.
Esgueirou-se.
Esmoreceu-se.
A palidez ferrou-se.
Numa hora chegou a raiva.
O fogo ateou.
A besta rasgou, partiu, chacinou, devorou, destruiu, apagou.
Sou de preto.
De palidez vincada.
De raiva adormecida.
De apatia nas veias.
De mangas compridas.
De alma tapada, enterrada, sustida.
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